Atendendo a pedidos de colegas da comunidade médica e de leitores em geral, passei os últimos meses estudando e avaliando as pesquisas existentes sobre as terapias alternativas de tratamento complementar com CBD e THC para pacientes com HIV/AIDS.
Identifiquei que tanto na literatura acadêmica quanto na informal, além das pesquisas e estudos clínicos publicados desde 1995, há também inúmeros relatos (de várias partes do globo), provindos de pacientes soropositivos e de seus médicos que expressaram a eficácia da terapia complementar com CBD e THC. Dos efeitos terapêuticos benéficos, os que principalmente se destacavam nestes relatos e documentos eram: tratamento das comorbidades prognósticas do HIV, alívio e combate às neuroinflamações, alívio de dores neuropáticas e minimização dos efeitos colaterais causados pelos antirretrovirais (ART).
Muito bem, como de praxe, vou primeiramente dissertar de forma breve sobre este vírus, que afortunadamente nessa época atual já possui tratamento e a cada dia rompe-se mais os paradigmas e estigmas sociais associados à doença. Vale lembrar que ainda não existe cura e o vírus continua a infectar indivíduos de qualquer gênero, sexualidade, religião, formação ou classe social.

Representação digital do vírus do HIV
O que é o HIV?
O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus) é um lentivírus que está na origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS/SIDA), uma condição em seres humanos na qual a deterioração progressiva do sistema imunitário propicia o desenvolvimento de infeções oportunistas e cancros potencialmente letais.
A infeção com o HIV pode ter sua origem na transferência de sangue, sêmen, lubrificação vaginal, fluido pré-ejaculatório ou leite materno. O HIV está presente nestes fluidos corporais, tanto na forma de partículas livres como em células imunitárias infectadas. As principais vias de transmissão são as relações sexuais desprotegidas, a partilha de seringas contaminadas, e a transmissão entre mãe e filho durante a gravidez ou amamentação.
Em países desenvolvidos, a monitorização do sangue em transfusões praticamente eliminou o risco de transmissão por esta via. A infecção por HIV em seres humanos é atualmente uma pandemia. Cerca de 0,6% da população mundial está infectada com o vírus. Entre 1981 e 2006, a AIDS foi responsável pela morte de mais de 25 milhões de pessoas. Um terço destas mortes ocorreu na África subsaariana, atrasando o crescimento econômico e aumentando a pobreza.

A prevenção ainda é o melhor remédio
Até 2013, estimou-se que 78 milhões de pessoas foram contaminadas, 39 milhões das quais morreram. O HIV infecta células vitais no sistema imunitário, como os linfócitos T auxiliares CD4+, macrófagos e células dendríticas (PCD). A infeção pelo vírus provoca a diminuição do número de linfócitos T CD4+ através de diversos mecanismos, entre os quais a apoptose de células espectadoras, a morte viral direta de células infectadas e morte de linfócitos T CD4+ através de linfócitos T citotóxicos CD8 que reconhecem as células infectadas.
Quando o número de linfócitos T CD4+ desce abaixo do limiar aceitável, o corpo perde a imunidade mediada por células e torna-se progressivamente mais suscetível a infeções oportunistas. A maior parte das pessoas infectadas com HIV, quando estão sem tratamento, desenvolvem AIDS. Sem tratamento, cerca de nove em cada dez pessoas infectadas com HIV desenvolve AIDS após 10-15 anos, embora algumas pessoas desenvolvam muito mais cedo.
O tratamento com antirretrovirais aumenta a esperança de vida de portadores do HIV, mesmo que a infecção tenha já evoluído para um diagnóstico de AIDS. Estimava-se que a esperança de vida com tratamento seria de cinco anos, entretanto, com a entrada de novos antirretrovirais essa expectativa passou para algo em torno de 20-50 anos (provavelmente, esta expectativa pode ser ainda maior, haja vista que atualmente há novos medicamentos e terapias mais toleráveis ao organismo dos portadores). Na ausência de tratamento, a morte ocorre geralmente no prazo de um ano.

Planta de cânhamo pertencente à espécie Cannabis sativa
O papel do CBD e THC na terapia de soropositivos (HIV/AIDS)
Conforme explanei no início deste artigo, é sabido através de estudos e pesquisas que são muitos os benefícios gerados pelo uso de CBD e THC aos portadores do vírus HIV; como por exemplo: o combate às neuroinflamações, comorbidades prognósticas, dores neuropáticas e minimização dos efeitos colaterais da terapia antirretroviral a curto, médio e longo prazos.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção nestes últimos meses de pesquisa, foi uma publicação de um novo estudo de agosto de 2017, do “Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes” onde concluiu-se que a canabis poderia evitar o surgimento da AIDS em pacientes soropositivos (HIV+).
Os pesquisadores da Michigan State University East Lansing nos EUA, concluíram que os pacientes soropositivos avaliados neste estudo, que faziam uso da canabis (que é um imunossupressor bem caracterizado segundo estudos anteriores) demonstraram que esta pôde suprimir a função de PDC durante a resposta antiviral, evitando assim que o vírus HIV complete o seu desenvolvimento.
Isso ocorre devido ao papel fundamental das células dendríticas plasmocitoides (PDC) na resposta imune antiviral do hospedeiro, pois as atividades destas células estão diretamente associadas ao desenvolvimento da AIDS. Além deste estudo, inúmeros outros assim como pesquisas, também destacaram o efeito terapêutico dos canabinoides para pacientes portadores de HIV, entre estes destaco alguns:
- Redução da neuropatia periférica

Neuropatia periférica do nervo ulnar
O CBD é uma alternativa mais segura e potencialmente mais barata aos opioides de prescrição. Uma forma específica e particularmente comum de dor associada ao HIV/AIDS é a neuropatia periférica, em que um ou mais nervos do sistema nervoso periférico (qualquer parte do sistema nervoso fora do cérebro e da medula espinhal) danificam-se e levam a dor, espasmos, parestesia, perda muscular e comprometimento da coordenação.
Demonstrou-se que a canabis pode ajudar a melhorar os sintomas de neuropatia periférica no HIV / AIDS, bem como em outras condições em que aparece, como diabetes.
Além dos relatórios subjetivos acima mencionados de dor e parestesia reduzidas, vários outros estudos avaliaram a capacidade da canabis de melhorar a neuropatia periférica em pacientes com HIV/AIDS. Em 2007, uma pesquisa de pacientes realizada nos EUA, Porto Rico, Colômbia e Taiwan descobriu que 67 dos 450 pacientes com neuropatia periférica relataram uso de CBD/THC para melhorar seus sintomas.
- Analgésico
O HIV/AIDS pode causar dor severa e debilitante que surge de várias fontes complexas, incluindo dor articular, nervosa e muscular. Um estudo transversal de 2011 em 296 pacientes socioeconomicamente desfavorecidos, constatou que 53,7% apresentaram dor intensa, 38,1% apresentaram dor moderada e 8,2% apresentaram dor leve; mais da metade dos indivíduos tinham receita médica para um analgésico opioide.
Verificou-se que a dor mais grave se correlacionava com a incidência de depressão. Uma pesquisa de 2005 descobriu que 94% dos entrevistados experimentaram alívio da dor muscular como resultado do uso de CBD; 90% também relataram melhora na neuropatia (dor nervosa) e 85% na parestesia (sensação de queimação, coceira e formigamento).
- Estimulador de apetite
O uso de canabis mostrou aumentar a ingestão calórica e o consumo de gordura, o que pode ajudar os pacientes soropositivos e/ou com caquexia a ganhar peso. Uma pesquisa de 2005 realizada em 523 pacientes HIV + descobriu que 143 (27%) dos entrevistados usaram canabis para gerenciar seus sintomas; daqueles, aproximadamente 97% relataram que experimentaram melhorias no apetite. Quando administradas doses elevadas de canabis, os pacientes experimentaram aumentos significativos no peso corporal. Sob condições de placebo, o peso médio dos entrevistados foi de 77,5 kg; após quatro dias de terapia com CBD, os pacientes ganharam 1,1 kg.

A canabis é eficiente como medicamento anti-náusea
- Anti-náusea
A canabis pode ajudar a aliviar a náusea que afeta a maioria dos pacientes. A náusea é um sintoma comum de infecção pelo HIV e, à medida que a doença progride, as causas da náusea podem se tornar cada vez mais complexas. Pode ocorrer náusea devido a problemas gastrointestinais, disfunção hepatorrenal, distúrbios do sistema nervoso central ou como resultado dos tratamentos utilizados para tratar a doença.
- Melhora de Humor/ Antidepressivo
Ansiedade, depressão e distúrbios do humor são algumas das características comuns do HIV/AIDS e podem surgir devido a uma combinação de pressões físicas, psicológicas e sociais negativas. A pesquisa de pacientes de 2005 descobriu que 93% dos entrevistados experimentaram alívio da ansiedade após o uso de CBD, enquanto que 86% relataram melhora também nos sintomas depressivos.
Conclusão
É notável o fato de que o CBD e o THC têm demonstrado que podem fornecer alívio e conforto significativo aos pacientes com HIV/AIDS. Os estudos sobre o uso do CBD como ajuda terapêutica para a AIDS podem ainda ser limitados, principalmente quando falamos de cura pela natureza, quase não há interesse de investimento em pesquisa.
No entanto, o composto provou ser eficaz na eliminação de vômitos, de dores neuropáticas, de perda de apetite e náuseas. Estes são alguns dos sintomas de infecções oportunistas associadas à AIDS. O uso do CBD-RSHO™ na melhoria dos sintomas da AIDS pode ajudar na manutenção de nutrientes essenciais, além de restaurar o peso e promover mais qualidade de vida ao paciente.
Além disso, quando usado como extrato, o CBD combate a dor neuropática que pode ser causada pela terapia antirretroviral do HIV. Em muitos pacientes, os sintomas da AIDS causam muita dor e sofrimento. Isso porque o desconforto físico se transforma em uma angústia emocional. Ansiedade, estresse e depressão causam deterioração fisiológica.
Felizmente, hoje no Brasil, assim como em muitos países do mundo, pacientes com HIV/AIDS já podem complementar seu tratamento ortodoxo com o uso de CBD; muitos médicos já o prescrevem com o intuito de oferecer mais qualidade de vida ao paciente. Visite nossa página de perguntas frequentes para esclarecer suas dúvidas ou entre em contato conosco.
Por Junior Gibelli
Diretor de assuntos médicos da HempMeds® Brasil